Sinal do gêiser



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WEB CLINICS AGOSTO – SETEMBRO 2016
 
Nesta edição o Dr. Márcio Luis Duarte discute um caso de radiologia do sistema musculoesquelético.
 
 
HISTÓRIA CLÍNICA

Mulher de 84 anos com dor e limitação funcional do ombro direito de longa data, impossibilitando exame físico adequado. Nega outras queixas.

Solicitada ressonância magnética (RM) para elucidação diagnóstica.

Legenda em A:

RM no corte coronal em T1 demonstrando cisto lobulado no tecido subcutâneo acima da articulação acrômio-clavicular (seta azul), medindo 5,0 x 4,5 x 2,3 cm.

Legenda em B:

RM no corte coronal em T2 STIR demonstrando cisto lobulado no tecido subcutâneo acima da articulação acrômio-clavicular (seta azul).

Legenda em C:

RM no corte sagital em T1 demonstrando atrofia dos ventres musculares supraespinhal (seta verde), infraespinhal (seta vermelha) e subescapular (setas laranja).

Legenda em D:

RM no corte sagital em T2 STIR demonstrando líquido na articulação acrômio-clavicular, que “liga” a articulação glenoumeral com o cisto – sinal do gêiser (seta amarela). Rotura dos tendões supraespinhal (seta verde), infraespinhal (seta vermelha) e subescapular (setas laranja).

 

INTRODUÇÃO

  • Cistos na articulação acrômio-clavicular são apresentações extremamente raras de patologia do ombro1,2 e pode se desenvolver tanto no tecido subcutâneo superficial quanto limitada à articulação acrômio-claivicular ou resultar de alterações degenerativas em curso relacionadas com a articulação glenoumeral3.

HISTÓRIA

  • O “sinal do Gêiser” é um sinal radiológico raramente encontrado que foi descrito pela primeira vez por Craig et al. em 1984 na sequência de uma artrografia ombro em um paciente com cisto acrômio-clavicular e rotura do manguito rotador1,4,5.
  • O sinal do qual deriva seu nome é devido a aparência de um geiser4.

IMPORTÂNCIA

  • Dependendo da etiologia da formação dos cistos, isso pode prejudicar a estética dos pacientes, bem como a atividade da vida diária1.
  • A massa é geralmente firme, mas compressível, imóvel e insensível ao toque.
    • O tamanho do cisto varia e não está relacionado com o tamanho da rotura do tendão supraespinhal.
    • O crescimento do cisto é tipicamente insidioso e progressivo, que pode, ocasionalmente, regredir em tamanho4.

ETIOLOGIA

  • Existem duas etiologias distintas para o cisto que recobre a articulação acrômio-clavicular.
    • Quando o manguito rotador está intacto, um cisto da articulação acrômio-clavicular pode se formar superficialmente e ser limitado apenas à articulação. Este tipo de cisto, tipo 1, não tem comunicação líquida com a articulação glenoumeral.
    • A patogênese do tipo 1 é dependente de alterações degenerativas da articulação acrômio-clavicular devido a trauma (incluindo luxação), infecção, doença metabólica ou uso repetitivo excessivo1,3.
  • Diferentemente, após uma lesão maciça do manguito rotador, outra condição pode ocorrer.
    • Uma rotura completa do manguito rotador pode levar a artropatia do manguito rotador, uma doença com características morfológicas claramente discerníveis incluindo o aumento da produção de intra-articular de fluido sinovial e o deslocamento para cima da cabeça do úmero, que por sua vez pode corroer a articulação acrômio-clavicular e permitir a formação de um gêiser de líquido com fluxo da articulação glenoumeral para a articulação acrômio-clavicular.
    • Este tipo de cisto, Tipo 2, é dependente de uma completa rotura do manguito rotador acompanhada por alterações degenerativas posteriores tanto da articulação glenoumeral quanto da acrômio-clavicular1,3.

EXAMES DE IMAGEM

  • A ultrassonografia é mais acessível, mas é operador dependente.
  • O advento da RM modernizou este sinal radiológico, com a sequência ponderada em T2 demonstrando alto sinal do extravasamento do líquido sinovial, sem a necessidade do contraste.
  • A ultrassonografia tem uma melhor capacidade de distinguir ruptura parcial do manguito rotador, quando comparado com a RM, mas a RM é essencial quando o manguito rotador não é facilmente visualizado ou para excluir qualquer doença maligna1.

 

TRATAMENTO

  • Existem apenas 2 casos de remissão espontânea do cisto1.
  • Ao diferenciar cistos da articulação acrômio-clavicular em categorias distintas, as opções de tratamento podem ser dirigidas para a patologia subjacente de forma apropriada.
    • O tratamento para o cisto tipo 1 pode incluir ressecção da clavícula distal e bursectomia subacromial.
    • O tratamento para o cisto tipo 2 continua a ser um tema de controvérsia.
      • As opções de tratamento para a artropatia do manguito rotador incluem ressecção da clavícula distal, irrigação artroscópica e debridamento, artrodese acrômio-clavicular, artroplastia total do ombro, hemiartroplastia, e artroplastia total reversa do ombro3.
    • A aspiração e excisão do cisto simples normalmente não funcionam devido a falha para corrigir a patologia do manguito rotador subjacente1,2.

      REFERÊNCIAS

      1. Shaarani SR, Mullett H. Reverse Total Shoulder Replacement with Minimal ACJ Excision Arthroplasty for Management ofMassive ACJ Cyst – A Case Report. Open Orthop J. 2014 Sep 24;8:298-301.
      2. Kontakis GM, Tosounidis TH, Karantanas A. Isolated synovial cyst of the acromio-clavicular joint associated with joint degeneration and an intactrotator cuff. Acta Orthop Belg. 2007 Aug;73(4):515-20.
      3. Hiller AD, Miller JD, Zeller JL. Acromioclavicular joint cyst formation. Clin Anat. 2010 Mar;23(2):145-52.
      4. Khor AYK, Wong SBS. Clinics in diagnostic imaging (151). Acromioclavicular joint geyser sign with chronic full-thickness supraspinatus tendon (SST) tear. Singapore Med J 2014; 55(2): 53-57.
      5. Chakraverty J, Gunatunga I, Singh S. A shoulder mass and the geyser phenonemon. Joint Bone Spine. 2014 Jan;81(1):92.

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Cortesia:

Dr. Márcio Luis Duarte